Por Silvio Cascione

SÃO PAULO (Reuters) - A pressão do mercado internacional empurrou o dólar para a nona alta seguida nesta sexta-feira, encerrando um mês de intensa valorização da moeda norte-americana com fôlego para se aproximar de 1,90 real.

O dólar subiu 1,02 por cento, a 1,885 real --maior cotação desde 2 de setembro de 2009.

As nove altas seguidas igualam-se à sequência de valorização do início de setembro de 2008, pouco antes da quebra do banco de investimento Lehman Brothers nos Estados Unidos, que disparou o pior momento da crise financeira global.

No fim de 2009, analistas já previam um ano mais volátil para o câmbio, que sofreria o impacto do déficit maior em transações correntes --inflado pelo aumento das importações--, da incerteza sobre a atuação do Fundo Soberano do Brasil na compra de dólares no mercado e da proximidade das eleições.

Mas o real também foi vítima do fortalecimento do dólar no exterior, principalmente a partir da segunda semana do mês. O plano de Barack Obama para reformar o setor bancário, a questão fiscal da Grécia, o aperto monetário da China e, nesta sessão, a surpresa positiva com o crescimento dos Estados Unidos foram os principais fatores por trás da alta do dólar no mundo.

Em meio a tantas fontes de pressão, o dólar teve um comportamento praticamente unilateral, com alta em 17 das 20 sessões do mês. Além disso, por causa da atuação também de fatores internos, a alta de 8,15 por cento no mês foi bem mais intensa do que a vista no exterior.

Em relação a uma cesta com as principais moedas, o dólar subiu cerca de 2 por cento em janeiro. Moedas de perfil semelhante ao real também variaram menos, como o peso chileno, que desvalorizou-se cerca de 3 por cento.

SEM TRÉGUA NO EXTERIOR, DÓLAR MANTÉM ALTA

Em vários momentos de janeiro, profissionais de mercado questionavam o fôlego da moeda norte-americana e previram ajustes de baixa. Na metade do mês, operadores chegaram a relatar alguma resistência por parte de agentes com posições vendidas em dólar, que perdem com a desvalorização do real.

Mas, após a demonstração de força do dólar, é impossível prever até onde esse ciclo de alta pode chegar, avalia Marcelo Portilho, estrategista da CM Capital Markets. "(Espero) bastante volatilidade. Dependendo do cenário externo, (o real) pode depreciar mais", disse.

Marcelo Oliveira, operador da corretora BGC Liquidez, acredita que a taxa de câmbio esteja buscando novos patamares. "O mercado está de olho neste dólar a 1,90 (real) já faz alguns dias... Acredito que o fundamento do câmbio é esse agora".

De acordo com o relatório Focus, do Banco Central, a mediana das projeções dos principais agentes de mercado ainda coloca o dólar a 1,75 real no fim do ano.

João Medeiros, diretor de câmbio da corretora Pioneer, aponta para a continuidade das compras diárias do Banco Central como uma demonstração de que o governo está confortável com a taxa de câmbio.

Em Davos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comentou justamente que está "feliz" com a atual taxa de câmbio, embora em sua opinião ela ainda não tenha alcançado um equilíbrio. Mantega também não vê motivos para preocupação com o déficit em transações correntes.

Mas Medeiros já teme efeitos mais duradouros do cenário adverso no exterior sobre as contas brasileiras. "Não sei se ficaria tão fácil como o governo acha que é rolar 40 bilhões de dólares (do déficit previsto pelo governo para 2010)".

Sobre o Fundo Soberano, o mercado se mantém atento à postura do governo, mas avalia que dificilmente ele viria às compras em meio a um ciclo de alta do dólar.

"Uma medida como essa só é provável em um cenário no qual o dólar caia com força novamente, e se aproxime de 1,70 real", escreveram analistas do Eurasia Group, em Nova York.

(Reportagem de Silvio Cascione)


Fontes e links:

MSN - Seu dinheiro